O que eu aprendi trabalhando nos Jogos Rio2016

Fui agente de bilheteria, fui coordenador de bilheteria, fui resolvedor de problemas, fui guia, fui amigo, fui chefe , fui líder... E aprendi lições que vão ficar para o resto da minha vida! Resolvi escrever sobre as principais por aqui, mostrando um outro lado dos Jogos Rio2016.

Foram sem dúvidas os dias mais intensos que eu vivi. Do momento em que fui contratado ao último dia de evento no Engenhão, muitas coisas aconteceram, esperadas e, principalmente, inesperadas, desafiando minhas capacidades de resolver problemas e lidar com as pessoas. Entre os meus relatos aqui nesse post, vou compartilhar a resposta de alguns dos meus agentes para a seguinte pergunta: “Qual aprendizado que você recebeu nas Olimpíadas Rio2016 e vai levar pro resto da vida?”. E pra quem quiser ver o que eu vi nesses dias, está tudo lá no meu instagram!

 

“Aprendi que ajudar, seja um colega ou um estranho doando um pouco do seu tempo, era mais gratificante para mim do que para outras pessoas. Porque trazia uma sensação que preenchia a alma de empatia, o que ao meu ver falta muito no dia a dia.” Denise Silva

 

 

Sobre ser agente de bilheteria e a tarefa de servir:

Antes de ser coordenador “full time”, eu e outros colegas nos revezamos nas funções de coordenador, agente de bilheteria e organizador de fila. Assim surgiu o respeito mútuo (éramos todos iguais, independente da função exercida no dia), um sentimento de amizade e companheirismo. Pessoas com as quais, provavelmente, nem daria um oi no facebook, devido às suas opiniões políticas, e se tornaram grandes amigos, gente que eu respeito e admiro.

 

“Ficou a lição de que, às vezes, por mais que você tente, nem tudo será resolvido. É preciso sabedoria pra aceitar esse fato e, ao mesmo tempo, entender que um dia você terá uma nova chance.” Danielle Sepulveda

 

 

E vi também como é estar do outro lado: como muita vezes prejulgamos quem nos presta um serviço como inferior, principalmente se o serviço envolver alimentação ou limpeza, aí mesmo que todas nossas raízes coloniais afloram. Não importa minha faculdade, os idiomas que eu falo, tivesse eu pós graduação em Harvard, isso também não faria muito diferença, pois se eu estou naquela cadeira vendendo ingressos, devo ser inferior. Isso me gerou uma empatia e respeito muito grandes por todos os atendentes, caixas e serventes, pessoas que eu já buscava respeitar e tratar bem, mas o respeito só aumentou. A empatia é um sentimento que pode ser buscado, mas ele normalmente só atinge sua plenitude quando você vive a situação do outro.

 

“Aprendi que tudo pode dar certo se trabalharmos em equipe e que somos como uma corrente que, quando um elo se parte, fica mais difícil. Assim, precisamos um do outro pra poder vencer e ganhar a medalha de ouro na vida.” Cristiane Paiva

 

Outra coisa que aprendi atendendo, foi buscar tratar todos os clientes da mesma forma. Apesar, que meu esforço era sempre maior com quem só podia comprar o ingresso mais barato, pois esses eu sabia que direta ou indiretamente também estavam pagando por essa Olimpíada e mereciam assistir alguma coisa. Como certos estereótipos são quebrados nessa hora! Pessoas simples, que gastavam verdadeiras fortunas em ingressos e saíam felizes e pessoas cheias de pompa e circunstância, que choravam miséria por cada real gasto.

 

“Percebi que sou capaz de muito mais do que achava que fosse e cresci profissionalmente, mesmo em poucos dias de trabalho.” Michelle Lima

 

 

Sobre ser coordenador de bilheteria (e servir mais ainda!):

De repente (sim, foi mais de repente do que eu gostaria), começaram os Jogos! O primeiro desafio já foi antes da abertura com jogo de futebol no Engenhão. Um grupo de agentes aflitos e inseguros chamando o seu nome dezenas de vezes por minuto como se você soubesse a resposta para tudo, inclusive o sentido da vida… São em momentos como esses é que a gente tem que mostrar do que é feito e do que é capaz. E lá vou eu abrir um sorriso e pedir calma, resolvendo um (às vezes dois) problemas por vez.

 

“Por pior que esteja a situação de trabalho, o companheirismo entre os funcionários consegue superar as adversidades.” Roberto Pacheco

 

Tive a oportunidade também de trabalhar na Cerimônia de Abertura, resolvendo problema de assento. Ali aprendi que quando você se mostra disposto e determinado a resolver o problema da pessoa, passando confiança e firmeza na sua fala, até o mais irritado e insatisfeito dos clientes fica mais calmo e cooperativo. Às vezes, basta um pouco de boa vontade e determinação pra transformar o humor e a experiência do outro.

 

“Nessas Olimpíadas, eu aprendi sobre diversidade, foi incrível conhecer e estar com povos de outros continentes em um mesmo lugar, rindo, se comunicando, reclamando, resolvendo problemas e vibrando com as competições.” David

 

 

Algumas coisas que aprendi ao liderar pessoas: você serve mais ainda do que quando atendente. Se você passa seriedade, as pessoas confiam demais em você, mais até do que gostaria. Mas se perder a credibilidade, depois é quase impossível conquistar o respeito. Liderança pelo exemplo pode transformar completamente o seu ambiente de trabalho. E o principal: o lugar do líder muitas vezes é solitário. Perdi as contas das vezes que eu tive que tomar atitudes e decisões onde minha única companhia e guia eram o meu bom senso… Ainda bem que ele funcionou!

 

“Aprendi muito com vocês que, com amor e carinho pelo trabalho, nós conseguimos superar qualquer coisa.” Wellington Sano

 

Das coisas que eu levei comigo e que me foram mais úteis, posso ressaltar duas: o livro “A hora da verdade” (fiz um review dele já tem um tempo), que me ajudou várias e várias vezes durante tomadas de decisões. Nem sempre seguiam os protocolos e burocracias (o que não deixava pessoas felizes às vezes), mas resolviam os problemas. E a outra, talvez a mais importante, foi a que eu aprendi com meu amigo, mestre e coach Rubens Vieira: o poder da reação. Na maioria das vezes, todas as coisas que aconteciam não dependiam da minha vontade. Clientes com problemas nos ingressos, pessoas que foram roubadas ou perderam seus ingressos, nada disso eu podia controlar, mas a maneira como eu reagia a essas adversidades foi o que fez toda a diferença. Quando eu não me deixava contagiar pela tensão e desespero, passando calma e tranquilidade, eu tornava minha equipe mais confiante e melhorava consideravelmente meu ambiente de trabalho. E o poder de reação serve pra qualquer coisa na vida.

 

Esse texto, e suas citações, são uma homenagem a todas as pessoas com quem tive a honra de trabalhar: coordenadores, agentes e funcionários de ticketing da Rio2016. Não vou citar todos os nomes com o receio de faltar alguém. Fiz questão de colocar a resposta de alguns colaboradores, pois não cheguei a essas lições sozinho e cada um, à sua maneira, ajudou a me tornar a pessoa que sou hoje. E também em retribuição fiz alguns retratos dos que puderam me esperar no último dia de trabalho, que vocês podem ver abaixo.